Quando o assunto é cocaína e heroína, a tolerância é sempre zero, ao contrário do que acontece com falsificação de medicamentos. Nesse terreno, leniência tem sido o nome do jogo. Quantos “spans” de um Viagra mais que suspeito a precinho de ocasião desfilam em sua caixa postal? Dá pra comprar de tudo que é jeito e largam dentro da tua casa. No mundo todo, a indústria farmacêutica pressiona pra que os governos sejam mais severos com os “counterfeits“. Até a igreja entrou na briga, via um comunicado do papa colocando a luta contra as falsificações como uma prioridade. E faz todo o sentido. A ordem do dia é investir em desenvolvimento tecnológico pré dificultar a vida dos criminosos – por uma simples questão: medicamento falso, diferente de um CD ou de um perfume, mata. Remédio falso é sinônimo de país pobre – ledo engano. Segundo John Clark, Vice President e CSO da Pfizer Global Security, no Canadá e os EUA, considerados países “seguros”, Viagra está no topo da lista das imitações vendidas a preço baixo. Falsificações de Lipitor®, Norvasc®, Zithromax® foram encontradas em 44 países, vendidos em redes de farmácias “confiáveis” (mais de 11 milhões de cápsulas e tabletes rastreados pela Pfizer). A coisa banalizou de uma forma, que um estudo financiado pela própria Pfizer mostra que metade dos consumidores europeus em 14 países têm habitualmente obtido medicamentos por canais “ilícitos”. Isso tudo movimenta um mercado de cerca de 12,8 bilhões de dólares.Pra conter esse tsunami, da mesma forma como pressionam os governos pra que se posicionem, empresas inovadoras correm para desenvolver softwares e processos de rastreamento cada vez mais incríveis. A IBM lançou um chip identificador por radio freqüência (RFID), uma espécie de “detector de fakes”, a ser impresso na embalagem dos remédios. Abbott e 3M fizeram o mesmo. Em país pobre, cada um se defende como pode – Uma empresa africana chamada mPedigree (Gana) criou um jeito de usar o celular para detectar falsificações – um selo em alto relevo no topo da caixa é raspado pelo consumidor, que passa uma mensagem com o código impresso por baixo da raspagem para uma central – essa informa se o remédio é falso ou não. A Nigéria, país vizinho que sofre com medicamentos falsos, gostou da coisa e vai implantar. O importante é dificultar – quanto mais caro e complexo for para um vigarista falsificar um remédio, mais ele vai ter que mudar seu “ramo” de negócios, diversificar – ainda que seja crime injustificável, falsificar sapatos, bolsas femininas e perfumes, não mata ninguém. Acabar, não acaba, minimiza – mas é sendo é com intolerância que se combate as pragas.
Fonte: The Economist – set/2010 & Wikipedia.