Do sofrimento, enquanto humanos, sabemos que nos marca. Dói. A cada segundo que aqui estamos a vida nos marca de um jeito intenso e profundo. E ainda assim achamos que tudo vale a pena (nem sempre, eu sei).
Cada ‘golpe’ que recebemos da ‘vida’ nos marca de um modo tal que passamos a viver a ‘vida’ com irritação, sem desejo de sermos que poderíamos (e deveríamos ser). Você sente isso também?
Buscamos muitas, e muitas, vezes nos entorpecer com tudo aquilo que nos distancia dessa realidade: álcool, drogas (lícitas ou não), trabalho e mais trabalho – Nos levando à maior distância possível da realidade. Você sabe do que falo, certo?
Quando percebemos a constância da dor e da incapacidade de fugirmos disso todas as fugas são possíveis e imagináveis, ainda que meramente temporárias.
De um modo geral Somos todos responsáveis por nossas próprias drogas. E ainda assim nos mantemos nesse modelo.
Se, e apenas Se
Pudéssemos fugir dessa incapacidade de lidar com essas dores teríamos então o mundo à nosso dispor.
Se pudéssemos deixar de nos ausentar do instante, do momento, saberíamos (e sentiríamos) que tudo o que temos é apenas aquilo: aquele pequeno fragmento de vida que está no infinito do momento.
Claro que nosso Ego nos põem a desejar algo, e tudo mais, mas entenda, o que há é apenas aquele segundo que vives, agora, nesse segundo, nessa leitura. Nada mais. Todo o restante é construção da nossa mente.
A Insensibilidade
Um dia ouvi uma música. Acordei às 04:30h e levantei da cama. Não sabia porque não conseguia dormir mais.
Fui pra sala e peguei o telefone. Vi um vídeo que marcou pois lembrei em cada segundo de meu Pai. Faz mais de 3 anos que isso aconteceu. E ainda assim, aquele vídeo, naquele momento, daquela forma me faz lembrar que meu amor por ele continua sendo tão grande quanto os momentos que vivemos juntos.
Não posso me considerar insensível. Pela história. Pelas lembranças. Pelo Amor.
Não olhe para o que você vê. Sinta o que a visão faz no seu coração.
Todo aquele que sofre o faz de forma sublime. Hora consciente. Ora não.
Mas o faz por assumir sua vulnerabilidade. Sem saber a generosidade, compaixão e santidade é gerada ali naquele momento.
E assim nos conduzimos a ponto de sentir muito além do que poderíamos, de modo que nem percebemos que é exatamente isso que nos molda, constrói e nos faz melhores.
Diz-se na tradição cristã que aqueles que têm o poder de sentir integralmente o seu sofrimento e o dos outros — de senti-lo a ponto de chorar por ele — têm o “dom das lágrimas”. Só grandes santos e santas tiveram esse dom, tão maravilhoso quanto a graça do sorriso.
Pierry Lévy